LAS FILIGRANAS DE PERDER

agosto 09, 2010

Propósito


PROPÓSITO

José Roberto Guedes De Oliveira

Concurso Mundial de Conto e Poesia Pacifista
Vencedor - Poesia - Português



Eu me propus a sair por aí,
encontrar em cada rosto um sorriso,
partido de dentro de cada um,
sem mancha,
sem pejo,
no calor aconchegante do ser comum.
Eu me propus,
firmemente,
completamente cheio de esperança,
a percorrer o longo caminho do amor,
abraçando o vento livre,
estendendo a mão a cada amigo.
Saí,
sem medo,
ao sol aberto,
e me vi sob a lua cheia:
era noite e todos se foram.
Busquei nas praças;
perguntei ao ar que respirava
e todos me informaram que era tarde.
Ah! meus arcanos!

Tarde?
No meu pensamento tudo girava.
Em espaços de tempo eu procurava,
andava e revolvia tudo.
Há o momento de meditação interior,
quando não se encontra nada,
no caminho rude e áspero
da nossa vida cotidiana.
Quando me propus a sair,
buscar algo,
não esperava encontrar a massa,
o componente humano respirando poluição,
de cara virada,
sem objetivo,
apenas vivendo.

Tenho esperança e fé;
mas não me carreguem para o nada.
As minhas forças são para ir,
buscar um aperto de mão,
uma ajuda a alguém.
Não quero desespero de ninguém,
nem tão pouco o rosto bipartido de quem me olha.
Não há final para quem planta,
ergue a muralha da idéia,
da criação de uma obra.
Há muitos caminhos a percorrer,
mesmo na noite fria de inverno.

Quando me propus a sair,
não pensei em desistir logo de início,
quando a angústia depositada no coração de uns e outros
ainda persistia em abafar o mundo.
Vi,
em milhões de olhos corridos,
uma tristeza infinita que não gostei,
digo e sou taxativo.
Não queria que fosse assim.
Mas quem sou eu?
Que voz que vem do fundo?
É minha? Pertence a este mundo?
Oh! Meu Deus!
Não deixem que desvaneça o sorriso.
Alentai o mundo para o céu aberto,
quando muitos procuram um lugar ao sol.
Há tanta gente querendo tanto!
Há tantos que não têm tanto!
Há tantos tentando ter tanto!

Mas quando me propus a sair por aí,
não achava o mundo tão conturbado,
bem diferente do que pensava.
Mas também não me deixei ao léu.
O meu sorriso é contínuo e vivo.
A cada meu passo um sonho de esperança,
uma noite de festa,
de mãos juntas a orar em preces ao Altíssimo.
Há um poder em quem enfrenta,
ereto,
rosto limpo,
calejado,
o que aparece pela frente.
Não há sentido em se deixar vencido.
O mundo gira e tudo vai;
nada é estável – estático.

Quando me propus a sair por aí,
apanhei tudo que era possível,
para não me perder na volta à origem,
ouvindo,
ao longe,
a voz que vinha chegando,
rouca mas firme,
dizendo: - “VÁ E VENÇA!”.

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